Olá caros leitores!
Como estamos eu (Gabriela) e Fabíola muito atarefadas com o exercício do cotidiano, resolvi publicar alguns eventos que andam acontecendo no cenário da moda pessoense, mais especificamente no Curso de Design de Moda do UNIPÊ, onde a coordenação está a cargo desta que vos escreve.
Muita coisa boa anda acontecendo no curso. Iniciamos com a aula inaugural fantástica de Ana Paula de Miranda, em seguida fizemos um Workshop sobre criação com Fabíola Pedrosa (a OUTRA escritora-voadora-sonhadora deste blog), e muitos outros eventos, como vocês vão confirmar com nossas anteriores e futuras postagens. Palestra com Ronaldo Fraga, reconstrução de trajes históricos, exposições, é só uma amostra do que fizemos e pretendemos fazer.
Agradeço desde já a atenção, a visita, e sugestões que possam nos dar, a fim de melhorar este blog, ou a qualidade de vida dessas doidas que nele escrevem, ou algo a acrescentar sobre o curso de Design, tanto faz, contanto que opinem e leiam, sempre!
domingo, 9 de novembro de 2008
Auditório lota durante palestra do estilista Ronaldo Fraga
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O estilista mineiro Ronaldo Fraga ministrou uma palestra na noite da última terça-feira (14), no Unipê para alunos do curso de Design de Moda.
O estilista mineiro Ronaldo Fraga ministrou uma palestra na noite da última terça-feira (14), no Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) para alunos do curso de Design de Moda. A palestra aconteceu no Auditório Tarcísio Burity, no campus da instituição, na Capital.
Segundo a coordenadora do curso de Design de Moda do Unipê, professora Gabriela Maroja, o estilista Ronaldo Fraga veio à Paraíba convidado pelo Sebrae, Governo do Estado e Ministério do Desenvolvimento Agrário e aceitou gentilmente um convite para ministrar a palestra na instituição.
Sobre o estilista
Graduado em estilismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, estudou em Nova York, cursou a Parson's School com uma bolsa que recebeu após vencer um concurso da empresa têxtil Santista. Em Londres, aprendeu chapelaria na Saint Martins. Em 1996, participou do Phytoervas Fashion, em São Paulo. Em 1997, ganhou o prêmio de estilista revelação. Logo em seguida, lançou a sua marca própria. Após participar da Semana de Moda - Casa de Criadores, Fraga foi convidado a entrar no São Paulo Fashion Week e, desde então, desfila nas duas edições anuais do evento. Logo na segunda participação do SPFW, as roupas para o verão 2001-2002, inspiradas em Zuzu Angel, foram indicadas como melhor coleção feminina de 2002 para o prêmio Abit - Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
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O estilista mineiro Ronaldo Fraga ministrou uma palestra na noite da última terça-feira (14), no Unipê para alunos do curso de Design de Moda.
O estilista mineiro Ronaldo Fraga ministrou uma palestra na noite da última terça-feira (14), no Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) para alunos do curso de Design de Moda. A palestra aconteceu no Auditório Tarcísio Burity, no campus da instituição, na Capital.
Segundo a coordenadora do curso de Design de Moda do Unipê, professora Gabriela Maroja, o estilista Ronaldo Fraga veio à Paraíba convidado pelo Sebrae, Governo do Estado e Ministério do Desenvolvimento Agrário e aceitou gentilmente um convite para ministrar a palestra na instituição.
Sobre o estilista
Graduado em estilismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, estudou em Nova York, cursou a Parson's School com uma bolsa que recebeu após vencer um concurso da empresa têxtil Santista. Em Londres, aprendeu chapelaria na Saint Martins. Em 1996, participou do Phytoervas Fashion, em São Paulo. Em 1997, ganhou o prêmio de estilista revelação. Logo em seguida, lançou a sua marca própria. Após participar da Semana de Moda - Casa de Criadores, Fraga foi convidado a entrar no São Paulo Fashion Week e, desde então, desfila nas duas edições anuais do evento. Logo na segunda participação do SPFW, as roupas para o verão 2001-2002, inspiradas em Zuzu Angel, foram indicadas como melhor coleção feminina de 2002 para o prêmio Abit - Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
Alunos do curso de Design de Moda do Unipê expõem trabalhos até dia 10
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Exposição ficará aberta das 10h às 12h e das 16h às 22h, no Vão Livre do Bloco P, no campus universitário, na Capital.
Exposição ficará aberta das 10h às 12h e das 16h às 22h, no Vão Livre do Bloco P, no campus universitário, na Capital.
Réplicas de vestidos de época e de noiva, telas, simulações de coleções, desenhos, bonecas e vários outros trabalhos de alunos da primeira turma do curso de Design de Moda do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) estão expostos no Vão Livre do Bloco P, no campus da instituição, na Capital, até o próximo dia 10 de novembro. A exposição “Colcha de Retalhos” fica aberta ao público das 10h00 às 12h00 e das 16h00 às 22h00.
“O nome da exposição remete justamente ao conjunto de trabalhos realizados pelos alunos durante o 1º semestre do curso de Design de Moda do Unipê, o primeiro da Paraíba. Esses trabalhos são alinhavos de todas as disciplinas do curso, entre elas, História da Arte, Moda e Indumentária, Moda e Comunicação, Pesquisa e Criação, entre outras. Os alunos produziram simulações de coleções, réplicas de vestidos de época, desenhos, pesquisas sobre ‘tribos urbanas’ e paper dolls (bonecas de papel). Esses trabalhos são apenas uma amostra do que o público pode apreciar na exposição”, afirmou a coordenadora do curso de Design de Moda do Unipê, Gabriela Maroja Jales.
“Convidamos toda a comunidade acadêmica e a população em geral para visitar, que ficará aberta até o dia 10 de novembro, com trabalhos interessantes dos nossos alunos”, acrescentou Gabriela Maroja. Mais informações sobre a exposição e o curso podem ser enviadas para o e-mail designmoda@unipe.br.
O que: Exposição Colcha de Retalhos Quando: de 03 a 10 de novembro, das 10h às 12h e das 16h às 22hOnde: Vão Livre do Bloco P, no campus do Unipê
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Exposição ficará aberta das 10h às 12h e das 16h às 22h, no Vão Livre do Bloco P, no campus universitário, na Capital.
Exposição ficará aberta das 10h às 12h e das 16h às 22h, no Vão Livre do Bloco P, no campus universitário, na Capital.
Réplicas de vestidos de época e de noiva, telas, simulações de coleções, desenhos, bonecas e vários outros trabalhos de alunos da primeira turma do curso de Design de Moda do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) estão expostos no Vão Livre do Bloco P, no campus da instituição, na Capital, até o próximo dia 10 de novembro. A exposição “Colcha de Retalhos” fica aberta ao público das 10h00 às 12h00 e das 16h00 às 22h00.
“O nome da exposição remete justamente ao conjunto de trabalhos realizados pelos alunos durante o 1º semestre do curso de Design de Moda do Unipê, o primeiro da Paraíba. Esses trabalhos são alinhavos de todas as disciplinas do curso, entre elas, História da Arte, Moda e Indumentária, Moda e Comunicação, Pesquisa e Criação, entre outras. Os alunos produziram simulações de coleções, réplicas de vestidos de época, desenhos, pesquisas sobre ‘tribos urbanas’ e paper dolls (bonecas de papel). Esses trabalhos são apenas uma amostra do que o público pode apreciar na exposição”, afirmou a coordenadora do curso de Design de Moda do Unipê, Gabriela Maroja Jales.
“Convidamos toda a comunidade acadêmica e a população em geral para visitar, que ficará aberta até o dia 10 de novembro, com trabalhos interessantes dos nossos alunos”, acrescentou Gabriela Maroja. Mais informações sobre a exposição e o curso podem ser enviadas para o e-mail designmoda@unipe.br.
O que: Exposição Colcha de Retalhos Quando: de 03 a 10 de novembro, das 10h às 12h e das 16h às 22hOnde: Vão Livre do Bloco P, no campus do Unipê
sexta-feira, 11 de julho de 2008
O corpo fala: Logo, a moda existe!
É isso. O corpo fala: logo a moda existe! Porque o corpo é uma espécie de vitrine da moda. Sem o corpo a moda fica descontextualizada, sem significados, pois o corpo se veste, se despe, se colore, na intenção de mostrar a cultura, a atitude e de se integrar socialmente dentro de uma comunidade. É através dos signos da moda que se percebem as nuances do tempo, da cultura vigente, das formas diversas de manifestações...
A moda não se dissocia da história, das diversas fases do mundo. E foi principalmente após a Idade Média, que o homem buscou na moda uma forma de controle social, uma forma de manter os grupos em sintonia, e o homem embora faça parte deste controle, busca na moda também sua individualidade, representando seus pensamentos, seus desejos, suas necessidades através de suas vestimentas e expressões quando a veste. Tudo está relacionado com a moda: o uso de roupas excessivas na época do puritanismo, tecidos ricos identificando a nobreza, a moda punk, o vestido branco da noiva, o véu das mulçumanas... Não se segrega o que o corpo veste dele próprio! Ou seja, a moda é uma representação de nosso corpo no mundo, de nossa corporeidade.
Através do corpo temos acesso ao universo que habitamos, é através dos sentidos que nos comunicamos com o mundo à volta, a fala, a visão, o tato... E através disto que podemos dizer que moda e corpo se articulam, um não vive sem o outro. Sim, pois a moda reflete arquétipos, modelos ancestrais de nossa condição: marcas de luto, pertencimento a clãs, a famílias, segmentos profissionais, povos e culturas. A plástica do corpo também é determinada pela moda: em épocas de escassez de comida as mulheres cheinhas eram admiradas. Na época da grande entrada feminina no mercado de trabalho os traços andróginos foram muito valorizados. Agora vivemos a ditadura da magreza, pois ao invés de sinal de pobreza, é antes um símbolo de que a mulher se cuida, têm condições de freqüentar academias, clínicas de estética, comer alimentos light (bem mais caros)! Na verdade, a moda é a manifestação mais perfeita de nossa condição de animais simbólicos, delirantes (homo demens).
Enfim, moda não é vestuário, não é luxo, não é brilho. É antes de tudo uma concepção de vida, é comunicação, é signo e não há moda que não esteja imbricada com as variáveis sócio-político-econômicas de uma sociedade, de um mundo e de uma época.
A moda não se dissocia da história, das diversas fases do mundo. E foi principalmente após a Idade Média, que o homem buscou na moda uma forma de controle social, uma forma de manter os grupos em sintonia, e o homem embora faça parte deste controle, busca na moda também sua individualidade, representando seus pensamentos, seus desejos, suas necessidades através de suas vestimentas e expressões quando a veste. Tudo está relacionado com a moda: o uso de roupas excessivas na época do puritanismo, tecidos ricos identificando a nobreza, a moda punk, o vestido branco da noiva, o véu das mulçumanas... Não se segrega o que o corpo veste dele próprio! Ou seja, a moda é uma representação de nosso corpo no mundo, de nossa corporeidade.
Através do corpo temos acesso ao universo que habitamos, é através dos sentidos que nos comunicamos com o mundo à volta, a fala, a visão, o tato... E através disto que podemos dizer que moda e corpo se articulam, um não vive sem o outro. Sim, pois a moda reflete arquétipos, modelos ancestrais de nossa condição: marcas de luto, pertencimento a clãs, a famílias, segmentos profissionais, povos e culturas. A plástica do corpo também é determinada pela moda: em épocas de escassez de comida as mulheres cheinhas eram admiradas. Na época da grande entrada feminina no mercado de trabalho os traços andróginos foram muito valorizados. Agora vivemos a ditadura da magreza, pois ao invés de sinal de pobreza, é antes um símbolo de que a mulher se cuida, têm condições de freqüentar academias, clínicas de estética, comer alimentos light (bem mais caros)! Na verdade, a moda é a manifestação mais perfeita de nossa condição de animais simbólicos, delirantes (homo demens).
Enfim, moda não é vestuário, não é luxo, não é brilho. É antes de tudo uma concepção de vida, é comunicação, é signo e não há moda que não esteja imbricada com as variáveis sócio-político-econômicas de uma sociedade, de um mundo e de uma época.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Moda, semiótica e regionalismo...
Como alguns sabem (e a maioria, não), estou fazendo o mestrado em Sociologia pela UFPB, com um projeto sobre o Consumo da Moda Regional. Vou buscar analisar quais os fatores culturais, sociais, as representações formadas pela população, que influenciam o consumo da moda local. Quem tiver sugestões que possam enriquecer meu trabalho, podem mandar email: gabrielamaroja@yahoo.com.br
Segue uma reflexão:
Segue uma reflexão:
“Toda imagem é um texto”
(Milton José de Almeida)
Se, como afirma Giordano Bruno, desde os gregos estamos embriagados de visão, podemos compreender a importância da linguagem, de toda linguagem no mundo da moda, que se configura como um campo privilegiado da Semiótica, como entendem Castilho & Martins (2006).
Na realidade, não há terreno mais propício para se entender as motivações, os contextos sócio-históricos, as percepções, as representações presentes no fenômeno da moda. Não se trata apenas da linguagem verbal, evidentemente importante, mas de uma linguagem articulada por esta arma à disposição do ser humano, ou seja, a palavra. Se esta é sempre pronunciada com uma interna carga de emoções, ao ponto de destruir ou construir vidas, a imagem pode também ser considerada no mesmo nível do que é construído pelo aparelho lingüístico. Pode-se afirmar que o homem é um animal de comunicação, um ser que parece predestinado a articular não somente a palavra emitida, mas, também vários signos, símbolos, significados que dão um sentido à sua existência. Procura sentido quando a realidade parece escapar do seu campo cognitivo e afetivo, e dá sentido às ações mais estranhas, aos comportamentos mais inusitados, às realidades mais contraditórias. Por isto Gandhi afirmava que “de tanto viver na lama, o homem um dia considera a lama perfumada”. Haverá reflexão mais apropriada para demonstrar que somos um ser de representações e resignificações?
Seria um equívoco pensar que a linguagem falada e escrita esgotam nosso desejo de reorganizar o mundo. Como indivíduos pensantes, falantes, desejantes e mutantes, a realidade se apresenta diante de nós frequentemente como um caos, embora não devamos esquecer que no Gênesis, Deus só organizou o mundo e lhe deu um sentido a partir do caos, e não contra o caos.
A moda não é apenas uma construção do fazer humano. Na moda estão envolvidos aspectos psicológicos, afetivos, econômicos, culturais, religiosos, históricos, pois como diz a poetisa Teresa Vergani “A cor é o nome que a luz dá à pele das coisas”. Numa peça de roupa não estão envolvidos apenas texturas, tamanho, estampas, mas toda uma gama de fatores que falam aos olhos, aos ouvidos, à cognição. Uma peça de roupa é acima de tudo um posicionamento no mundo, uma maneira de expressar intolerância, dor, injustiça. A moda pode ser inclusive uma tradução da vida e da inserção do indivíduo na sociedade.
Trabalhar com um tema como moda regional é apelar para o mundo do pensamento complexo, um pensamento que não se limita ao comportamento linear, mas apela para a diversidade, a contradição, para o simples e o difícil, para as raízes e para o sonho. A moda regional, objeto de nossa pesquisa, não pode ser vista desligada do contexto nacional, das representações, das utopias, dos desejos. Na moda da região está presente toda manifestação cultural particular, ou seja, na moda em geral e na moda regional em particular, estão presentes todas as nuances e manifestações que o ser humano consegue significar: cores, formas, imagens, sons, palavras, mitos, significados, solidariedade. É tudo isto que pretendemos estudar na pesquisa sobre a moda regional.
(Milton José de Almeida)
Se, como afirma Giordano Bruno, desde os gregos estamos embriagados de visão, podemos compreender a importância da linguagem, de toda linguagem no mundo da moda, que se configura como um campo privilegiado da Semiótica, como entendem Castilho & Martins (2006).
Na realidade, não há terreno mais propício para se entender as motivações, os contextos sócio-históricos, as percepções, as representações presentes no fenômeno da moda. Não se trata apenas da linguagem verbal, evidentemente importante, mas de uma linguagem articulada por esta arma à disposição do ser humano, ou seja, a palavra. Se esta é sempre pronunciada com uma interna carga de emoções, ao ponto de destruir ou construir vidas, a imagem pode também ser considerada no mesmo nível do que é construído pelo aparelho lingüístico. Pode-se afirmar que o homem é um animal de comunicação, um ser que parece predestinado a articular não somente a palavra emitida, mas, também vários signos, símbolos, significados que dão um sentido à sua existência. Procura sentido quando a realidade parece escapar do seu campo cognitivo e afetivo, e dá sentido às ações mais estranhas, aos comportamentos mais inusitados, às realidades mais contraditórias. Por isto Gandhi afirmava que “de tanto viver na lama, o homem um dia considera a lama perfumada”. Haverá reflexão mais apropriada para demonstrar que somos um ser de representações e resignificações?
Seria um equívoco pensar que a linguagem falada e escrita esgotam nosso desejo de reorganizar o mundo. Como indivíduos pensantes, falantes, desejantes e mutantes, a realidade se apresenta diante de nós frequentemente como um caos, embora não devamos esquecer que no Gênesis, Deus só organizou o mundo e lhe deu um sentido a partir do caos, e não contra o caos.
A moda não é apenas uma construção do fazer humano. Na moda estão envolvidos aspectos psicológicos, afetivos, econômicos, culturais, religiosos, históricos, pois como diz a poetisa Teresa Vergani “A cor é o nome que a luz dá à pele das coisas”. Numa peça de roupa não estão envolvidos apenas texturas, tamanho, estampas, mas toda uma gama de fatores que falam aos olhos, aos ouvidos, à cognição. Uma peça de roupa é acima de tudo um posicionamento no mundo, uma maneira de expressar intolerância, dor, injustiça. A moda pode ser inclusive uma tradução da vida e da inserção do indivíduo na sociedade.
Trabalhar com um tema como moda regional é apelar para o mundo do pensamento complexo, um pensamento que não se limita ao comportamento linear, mas apela para a diversidade, a contradição, para o simples e o difícil, para as raízes e para o sonho. A moda regional, objeto de nossa pesquisa, não pode ser vista desligada do contexto nacional, das representações, das utopias, dos desejos. Na moda da região está presente toda manifestação cultural particular, ou seja, na moda em geral e na moda regional em particular, estão presentes todas as nuances e manifestações que o ser humano consegue significar: cores, formas, imagens, sons, palavras, mitos, significados, solidariedade. É tudo isto que pretendemos estudar na pesquisa sobre a moda regional.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Dúvidas... Fragmentos...
Fala-se muito em moda hoje, da rapidez das tendências e do eterno retorno dos mesmos. Então, por que não fazê-la perdurar um pouco mais? Temos várias justificativas sócio-políticas para isso como a globalização e identidade de grupos, porém precisamos mais de ação do que justificação, talvez se fossemos mais aforismáticos em tempo mais durável... Por que não fazer perdurar a roupa em detrimento da moda? Fragmentos, vestimentas, tendências... Sejamos tão sábios quanto as serpentes que ficam um tempo a mais sob o mesmo sol.
Fabíola Pedrosa
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Exposição- Vestir Contemporâneo: a griffe da Contracultura
Olá, a Luciana Cottini que tem um trabalho super lindo, me passou esse release da exposição da qual ela assina a produção. Se você é ou está em São Paulo vale a pena ir dar uma olhada e tentar entrar neste mundo subjetivo meio líquido, meio efêmero que a pós-modernidade trouxe, mas que na verdade sempre esteve aí, no universo do vestir.
E tome gente Cool fazendo moda e arte... E você o que acha?
Vestir Contemporâneo/2008: A Grife da Contracultura
“Maio de 68 organizou-se segundo o eixo temporal da moda, o presente, num happening mais parecido com uma festa do que com os dias que abalam o mundo.”Gilles Lipovetsky
E tome gente Cool fazendo moda e arte... E você o que acha?
Vestir Contemporâneo/2008: A Grife da Contracultura
“Maio de 68 organizou-se segundo o eixo temporal da moda, o presente, num happening mais parecido com uma festa do que com os dias que abalam o mundo.”Gilles Lipovetsky
Roupas padrões apesar de tanta diferença. Tipos sociais? Tribos urbanas? Como Mafesoli nos ensina, comunicar é também desejo de viscosidade, de agregação, de fazer parte de baratas e de baixa qualidade, configuradas em looks despretensiosos e caóticos,ambientados em pontos de ônibus lotados, pequenos botecos e banquinhas de camelô do centro da cidade de São Paulo. É neste universo que a grande maioria da população paulistana está inserida, apesar do crescente e próspero pólo de criação em moda prêt-à-porter brasileiro.As castas e seus respectivos costumes foram substituídos por uma miscelânea de cores,formas e estilos, traduzindo a identidade de forma muito mais sutil e subjetiva. Vemos nas ruas pessoas com as mais diversas composições de vestimenta, que exceto pelos ternos e uniformes, não podemos lhes atribuir com certeza sua profissão e muito menos sua classe social.
Entretanto, é perceptível a existência de alguns segmentos de maneiras de vestir, atuando quase como algo maior que o indivíduo. Neste contexto, vemos surgir, na cultura de massas, segmentações do consumo de aparências, numa busca simultânea pela agregação e individualidade. Nas palavras do historiador Jameson, um consumo de massa estilizado.
Tribos Urbanas? As vestimentas comunicam os signos de determinada sociedade, tribo urbana ou classe social. Todavia, não podemos dizer ao certo quais as preferências musicais, o bairro onde mora, a classe social e muito menos a profissão de uma determinada pessoas somente pelas suas roupas. E este nem é o ponto a ser discutido.As identidades visuais são mescladas e muitas vezes vazias de sentido, mas contudo, confluem para esta socialidade que nos fala Maffesoli.A partir de composições e montagens muitas vezes fragmentadas e desconexas, a moda cotidiana traduz a contemporaneidade. Entretanto, quando dissociadas do corpo que vestem e de suas composições que lhe conferem identidade, estas roupas se tornam meros trapos de pano sem vida. É como se elas só existissem enquanto comunicação no corpo. Sem ele, elas apenas têm valor de uso. Ao menos a princípio.Embora as vestes, sem o seu preenchimento por excelência, o corpo, sejam incapazes de reproduzir a linguagem corpórea que lhes garante o status de interface, elas foram adquirindo ao longo da história iconográfica, um repertório visual, social e afetivo que lhes conferem uma motivação.
Nestes termos, identifiquei três tipos ideais desta motivação, tomando emprestado como base a tipologia analítica da sociologia weberiana e alguns conceitos de Maffesoli em seu livro O Tempo das Tribos...
Motivação Territorial / Cotidiana : memória da roupa da pessoa comum, do povo, nas palavras de Maffesoli, do gênio do lugar. Não há preocupação formal (formal aqui referente ao valor "Belo"), mas um desejo de integrar-se, de se fazer desapercebido na massa.Motivação pessoal / Subjetiva : relação afetiva pessoal que cada pessoa tem com ao menos um objeto de vestimenta em sua vida. É ligada as emoções, história pessoal, é portanto, sempre uma narrativa.
Motivação formal / Identificação Visual : está presente nas roupas que denominei como"caricaturizadas". Elas passam por si próprias alguma mensagem referente a algum estilo de - Socialidade como este desejo de se agregar ao grupo, de fazer parte de algo maior, mesmo que esta ação não seja coerente e careça de sentido, mas ao mesmo tempo de se afirmar enquanto pessoa.
Maffesoli nos fala de uma superação da noção de indivíduo/função, do ser histórico configurado em grupos contratuais, para a noção de pessoa/papel, do ser efêmero configurado em tribos afetuais. música, uma época histórica, ou mesmo uma ideologia social. A identificação do usuário com esta peça não precisa ser consciente, ou muito menos coerente. É sobre este aspecto que Maffesoli nos fala de uma sociedade de tribos incoerentes com relação a qualquer ideal comum, ou algo maior que sua própria existência pessoal. Contudo, o grupo é agregado por esta fina película efêmera, que pode ampliar seu alcance, ou mesmo mudar seu sentido não importando muito para quem, e muito menos para onde. É um devir contemporâneo, um constante descritivo e busca de identidade meramente casual.
Maffesoli nos fala de uma superação da noção de indivíduo/função, do ser histórico configurado em grupos contratuais, para a noção de pessoa/papel, do ser efêmero configurado em tribos afetuais. música, uma época histórica, ou mesmo uma ideologia social. A identificação do usuário com esta peça não precisa ser consciente, ou muito menos coerente. É sobre este aspecto que Maffesoli nos fala de uma sociedade de tribos incoerentes com relação a qualquer ideal comum, ou algo maior que sua própria existência pessoal. Contudo, o grupo é agregado por esta fina película efêmera, que pode ampliar seu alcance, ou mesmo mudar seu sentido não importando muito para quem, e muito menos para onde. É um devir contemporâneo, um constante descritivo e busca de identidade meramente casual.
Ver e ser visto: Independentemente da função social desenvolvida por um determinado indivíduo, sua configuração visual nos transmite muitos signos referentes a sua subjetividade. Ultrapassando os limites de uma sociedade partilhada em classes sociais historicamente dinâmicas, a pós- modernidade nos mostra um outro viés da herança industrial burguesa, muito menos estrutural, e diria até, superficial. A mobilidade das pessoas dentre as diversas opções de identificação social marcam este novo estado de coisas, que permite a existência sistêmica de esferas tão efêmeras como a forma da comunicação visual do dia-a-dia das pessoas. Não que a moda seja efêmera num sentido pejorativo. Mas é que sua persistência na história comprova o argumento dos pós-modernos sobre esta leveza presente no novo dinamismo social, que está mais próximo de uma rede em constante mutação do que a uma pirâmide de classes.
É neste sentido também que se dá a socialidade que nos fala Maffesoli. A constituição social a partir de tribos nos remete a uma estrutura maleável, onde não estão sendo considerados função social, classe social ou mesmo qualquer necessidade de coerência comportamental.Vivemos num mar de efemeridades, de pessoas que flertam com diversos estilos de vestir, maneiras de pensar, estilos de música, motivações políticas, etc., sem ter nenhum vínculo necessariamente estreito e coeso com algum destes grupos.É um non-sense da superficialidade para a qual nos alerta teóricos da comunicação como Baudrillard e Kamper, todos nós somos imagens e agimos enquanto tal: devorando outras imagens. É um estado de coisas irrevogável, onde qualquer ação individual pressupõe uma contrapartida austera, não agimos por nós mesmos e sim por uma confluência de informação e imagem que nos invade e nos devora.
As mil e um faces da Contracultura “Viver sem entraves aqui e agora no rompimento das hierarquias instituídas – Maio de 68 foi levado por uma ideologia individualista libertária, hedonista e comunicacional, nos antípodas da abnegação de si das revoluções anteriores. O presente coletivo e subjetivo é que foi o pólo temporal dominante de Maio de 68, primeira revolução-moda em que o frívolo prevaleceu sobre o trágico, em que o histórico se uniu ao lúdico. Maio de 68 mobilizou as paixões revolucionárias mais na aparência do que em profundidade; a forma moda já conseguira, de fato, anexar a ordem da subversão.” Ser um revolucionário, amar livremente como se o amor fosse uma ruptura, correr pelas estradas com o seu conversível, mergulhar no anti-ideal americano sex, drugs and rockn roll , “emprestar” os ideais de uma época assim como suas vestes e suas músicas, são alguns dos pontos mais fortes da nossa publicidade direcionada para o público jovem de hoje.Entretanto, como o próprio Lipovetsky já nos indica, a moda da revolução não é algo nada novo, pelo contrário, surgiu do movimento juvenil de maior importância histórica deste século, referência visual e comportamental para todas as gerações que se sucederam, o Maio de 68.Ser um “sonhador” ou não, adotar seus ideais e emblemas pode parecer hoje algo muito próximo ao ato de se fantasiar num baile de carnaval, tão frívolo e desconexo quanto sair à noite vestindo roupas que remetem ao punk rock. Tudo pelo simples desejo de viscosidade. Para integrar-se, buscar a própria identidade no outro através da forma e das emoções.
É neste sentido também que se dá a socialidade que nos fala Maffesoli. A constituição social a partir de tribos nos remete a uma estrutura maleável, onde não estão sendo considerados função social, classe social ou mesmo qualquer necessidade de coerência comportamental.Vivemos num mar de efemeridades, de pessoas que flertam com diversos estilos de vestir, maneiras de pensar, estilos de música, motivações políticas, etc., sem ter nenhum vínculo necessariamente estreito e coeso com algum destes grupos.É um non-sense da superficialidade para a qual nos alerta teóricos da comunicação como Baudrillard e Kamper, todos nós somos imagens e agimos enquanto tal: devorando outras imagens. É um estado de coisas irrevogável, onde qualquer ação individual pressupõe uma contrapartida austera, não agimos por nós mesmos e sim por uma confluência de informação e imagem que nos invade e nos devora.
As mil e um faces da Contracultura “Viver sem entraves aqui e agora no rompimento das hierarquias instituídas – Maio de 68 foi levado por uma ideologia individualista libertária, hedonista e comunicacional, nos antípodas da abnegação de si das revoluções anteriores. O presente coletivo e subjetivo é que foi o pólo temporal dominante de Maio de 68, primeira revolução-moda em que o frívolo prevaleceu sobre o trágico, em que o histórico se uniu ao lúdico. Maio de 68 mobilizou as paixões revolucionárias mais na aparência do que em profundidade; a forma moda já conseguira, de fato, anexar a ordem da subversão.” Ser um revolucionário, amar livremente como se o amor fosse uma ruptura, correr pelas estradas com o seu conversível, mergulhar no anti-ideal americano sex, drugs and rockn roll , “emprestar” os ideais de uma época assim como suas vestes e suas músicas, são alguns dos pontos mais fortes da nossa publicidade direcionada para o público jovem de hoje.Entretanto, como o próprio Lipovetsky já nos indica, a moda da revolução não é algo nada novo, pelo contrário, surgiu do movimento juvenil de maior importância histórica deste século, referência visual e comportamental para todas as gerações que se sucederam, o Maio de 68.Ser um “sonhador” ou não, adotar seus ideais e emblemas pode parecer hoje algo muito próximo ao ato de se fantasiar num baile de carnaval, tão frívolo e desconexo quanto sair à noite vestindo roupas que remetem ao punk rock. Tudo pelo simples desejo de viscosidade. Para integrar-se, buscar a própria identidade no outro através da forma e das emoções.
- LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero. Ed. Companhia das Letras / São Paulo / SP pp 245
.- Aqui me referindo ao filme Dreammers de Bernardo Bertolucci.
Ora, não estamos falando novamente das motivações de vestimenta? Em Vestir Contemporâneo/2008: A Grife da Contracultura, discutiremos a identidade da contracultura na sociedade contemporânea através deste espelho que é o outro e os seus jogos adjacentes de vestimenta.
Objeto : Do Artigo à Instalação Áudio Visual
Vestir antes de tudo é comunicar. Experimentar. Viver situações sociais, reviver memórias afetivas, passear pelo universo lúdico.
Vestir Contemporâneo é uma Vídeo-instalação interativa que convida o interator a vivenciar uma outra persona através de composições de vestes ora casuais ora extravagantes. Ver e ser visto são ações simultâneas neste processo, lidando com as motivações pelas quais uma pessoa escolhe uma roupa.Um desfile interativo e uma experiência lúdica no universo fragmentado da moda contemporânea.
Equipe técnica:
Concepção e Direção Geral: Dudu Tsuda
Áudio Documentário: Dudu Tsuda
Concepção de Moda: Dudu Tsuda e Luciana Cottini
Produção de Moda: Dudu Tsuda e Luciana Cottini
Produção: Luciana Cottini
Fotografia e Vídeo: Marc Jean Dourdin
Trilha Sonora: Dudu Tsuda
Autoração e programação de Software: Jean Habbib
Produção Executiva: Luciana CottiniCenotécnico: Adolfo Mia.
Onde:
Sesc Pompéia - área de Convivênciarua Clélia, 93 - Pompéia.
terça a sábado, das 10 às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 20h.
telefone: 11 3871-7700 / e-mail: email@pompeia.sescsp.org.br
Quando:inauguração do evento dia 15 de abril ás 20h.até 18 de junho.
domingo, 25 de maio de 2008
Indiana Jones e a patifaria norte-americana
Às vezes penso que os frankfurtianos tinham razão ao criticarem a indústria cultural. Benjamin era feroz quanto a isso, achava que a propagação do cinema seria algo inevitável e nocivo. Achava tão radical essa opinião, mas muitas vezes me pego dando razão a eles... Vejamos:
Acabei de chegar do cinema. Fui levar meu “pequeno” pra assistir o novo Indiana Jones. Saí de lá impressionada... Ok, super-produção, elenco de primeira, mas, o que está por trás daquela história mentirosa de aventuras? Uma mensagem bem clara de que os americanos e ingleses é que são os “bonzinhos” do mundo. A história se passa na década de 50, quando Indi é procurado por um rapaz que diz que sua mãe e seu amigo que é como um pai, correm risco de vida, se ele não os ajudar a encontrar uma “caveira de cristal” que dá poderes a quem levá-la de volta a seu lugar de origem. Acontece que a KGB, representada por uma “camarada” braço direito de Stálin também quer a tal caveira e encontrar o tal lugar onde deve levá-la para receber seus poderes. Aí já mostra o filme detonando os comunistas. Tem cenas que mostram os alunos na Universidade participando de protestos com faixas “melhor morrer do que ser comunista” e coisas do gênero. Mensagem subliminar? Nããããoooooooo, direta mesmo!!! Comunismo é o mal do mundo!!!!!!!!!! Como se não bastasse e fosse pouco, o tal lugar que deveriam levar a caveira de cristal fica na região amazônica em algum lugar perdido por qualquer um dos países da América Latina (é o que somos pra eles, todos latinos), e aí o negócio fica mais feio ainda. Os comunas entrando na mata com seus carros e serras, derrubando árvores, destruindo coisas, mostrando bichos que não existem (duvidam que é pra mostrar um certo exotismo que povoa a mente deles a respeito de nós?) e no fim culmina com a destruição da cidade sagrada inundada pelas águas. Hum, sei não, só eu que senti um quê de manipulação nisso tudo?
Você caro leitor, deve estar se perguntando,o que eu tenho com isso? O que ela tem com isso? O que isso tem a ver com moda? Eu sei, eu sei... Mas aqui volto às nossas origens. Valorizamos demais o que vem de fora, os norte-americanos de um lado, os europeus do outro e nós espremidos como massas numa forminha dispostos a aceitar tudo isso pra nós, e no meu caso pra o meu filho que está recebendo mensagens erradas, de um ponto de vista que não é o nosso. Isso tem a ver comigo, tem a ver com você e tem a ver com moda, pois nossa moda pode ser nossa identidade, e nossa identidade tem que partir de nossa memória, de nossa herança cultural, de nosso compromisso com a verdade, coisas que o cinema e a TV muitas vezes não mostram.
Só pensei nisso tudo na saída do cinema, mas mesmo assim não era tarde demais. Deu tempo de negar a ele um lanche no Burguer King, onde o brinde era um feliz Indiana Jones sorridente, pronto para conquistar o mundo e derrotar os terríveis inimigos soviéticos, comunistas, e se sobrar um tempinho, os latinos também...
Por Gabriela Maroja
Acabei de chegar do cinema. Fui levar meu “pequeno” pra assistir o novo Indiana Jones. Saí de lá impressionada... Ok, super-produção, elenco de primeira, mas, o que está por trás daquela história mentirosa de aventuras? Uma mensagem bem clara de que os americanos e ingleses é que são os “bonzinhos” do mundo. A história se passa na década de 50, quando Indi é procurado por um rapaz que diz que sua mãe e seu amigo que é como um pai, correm risco de vida, se ele não os ajudar a encontrar uma “caveira de cristal” que dá poderes a quem levá-la de volta a seu lugar de origem. Acontece que a KGB, representada por uma “camarada” braço direito de Stálin também quer a tal caveira e encontrar o tal lugar onde deve levá-la para receber seus poderes. Aí já mostra o filme detonando os comunistas. Tem cenas que mostram os alunos na Universidade participando de protestos com faixas “melhor morrer do que ser comunista” e coisas do gênero. Mensagem subliminar? Nããããoooooooo, direta mesmo!!! Comunismo é o mal do mundo!!!!!!!!!! Como se não bastasse e fosse pouco, o tal lugar que deveriam levar a caveira de cristal fica na região amazônica em algum lugar perdido por qualquer um dos países da América Latina (é o que somos pra eles, todos latinos), e aí o negócio fica mais feio ainda. Os comunas entrando na mata com seus carros e serras, derrubando árvores, destruindo coisas, mostrando bichos que não existem (duvidam que é pra mostrar um certo exotismo que povoa a mente deles a respeito de nós?) e no fim culmina com a destruição da cidade sagrada inundada pelas águas. Hum, sei não, só eu que senti um quê de manipulação nisso tudo?
Você caro leitor, deve estar se perguntando,o que eu tenho com isso? O que ela tem com isso? O que isso tem a ver com moda? Eu sei, eu sei... Mas aqui volto às nossas origens. Valorizamos demais o que vem de fora, os norte-americanos de um lado, os europeus do outro e nós espremidos como massas numa forminha dispostos a aceitar tudo isso pra nós, e no meu caso pra o meu filho que está recebendo mensagens erradas, de um ponto de vista que não é o nosso. Isso tem a ver comigo, tem a ver com você e tem a ver com moda, pois nossa moda pode ser nossa identidade, e nossa identidade tem que partir de nossa memória, de nossa herança cultural, de nosso compromisso com a verdade, coisas que o cinema e a TV muitas vezes não mostram.
Só pensei nisso tudo na saída do cinema, mas mesmo assim não era tarde demais. Deu tempo de negar a ele um lanche no Burguer King, onde o brinde era um feliz Indiana Jones sorridente, pronto para conquistar o mundo e derrotar os terríveis inimigos soviéticos, comunistas, e se sobrar um tempinho, os latinos também...
Por Gabriela Maroja
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Espaço Garimpo em Recife até dia 10/05
Olá, postei esta semana o convite pro Espaço Garimpo que está rolando desde o dia 06/05 e vai até 10/05 em Recife na creperia Montmartre- Casa Forte
Gostaria de falar um pouco desse evento, pois muitos pensam que se trata apenas de uma feirinha ou bazar, o que não é verdade.
A Germana Uchôa, organizadora do evento, é uma menina super de vanguarda, fez pós-graduação comigo em Cultura de Moda, e teve a idéia de reunir designer independentes que não tem muita visibilidade no esquema comercial tradicional, portanto, o evento é realmente um garimpo de peças e marcas muito especiais.
Surgiu então o Espaço Garimpo, um projeto itinerante, super moderno, muito bem organizado, e com lindos objetos de design. (repito: nada daquela cara de feirinha ou bazar!).
E então, vamos conhecer?
ESPAÇO GARIMPO
DATA: 06 a 10/05 das 17:00 as 23:00 h
Local: Creperia Montmartre. R. Alfredo Fernandes, 62, Casa Forte.
Tel 81/3268-7278
Ao lado do Mc Donald´s.
Gostaria de falar um pouco desse evento, pois muitos pensam que se trata apenas de uma feirinha ou bazar, o que não é verdade.
A Germana Uchôa, organizadora do evento, é uma menina super de vanguarda, fez pós-graduação comigo em Cultura de Moda, e teve a idéia de reunir designer independentes que não tem muita visibilidade no esquema comercial tradicional, portanto, o evento é realmente um garimpo de peças e marcas muito especiais.
Surgiu então o Espaço Garimpo, um projeto itinerante, super moderno, muito bem organizado, e com lindos objetos de design. (repito: nada daquela cara de feirinha ou bazar!).
E então, vamos conhecer?
ESPAÇO GARIMPO
DATA: 06 a 10/05 das 17:00 as 23:00 h
Local: Creperia Montmartre. R. Alfredo Fernandes, 62, Casa Forte.
Tel 81/3268-7278
Ao lado do Mc Donald´s.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
A moda e suas linguagens como relação local e global
A moda é e sempre será uma expressão da presença do homem na história. E a presença do homem na face da terra aponta não apenas para vitórias no plano material: domar os animais, plantar e colher, dominar as águas e os ventos, abrandar o calor do sol, mas também (ou especialmente) para a dimensão simbólica ou representacional de sua trajetória. A moda, qualquer que seja sua manifestação, nos diz que o homem é um animal que faz da vida uma aventura não somente para se alimentar e reproduzir, mas para dar um sentido a esta aventura.
Vestir uma roupa, por exemplo, transcende o simples vestir-se, o simples proteger-se das intempéries, para transformar-se num momento de “mostrar-se” ao mundo. Por que este “mostrar-se”? Porque a moda, (no caso a roupa) é uma linguagem, uma maneira de estar no mundo, uma tentativa de dizer que não é apenas um organismo. Neste aspecto (ou em todos os outros), a fala indica os meus limites e as minhas possibilidades, e isto é profundamente conectado com todos os meus desejos e anseios. Uma peça de roupa “fala”, “se expressa”, uma peça de roupa em certo sentido é uma parte de meu corpo. É talvez por esta razão que falamos em “perna de calça”, em “manga de camisa”, nas pessoas que tem “fibras”, em “visão do mundo”...
Como é que se pode falar na relação entre global e local, sem cair em contradição? Ouçamos Tolstoi, o escritor russo: “se quiseres ser universal, canta primeiro tua aldeia”; no mundo da moda nada mais global que o particular, nada mais universal do que o singular. Aliás, a contradição (ou a integração) entre a totalidade e a parte é a metáfora das imensas possibilidades do ser humano, seja de sua presença, seja de sua linguagem. Vestir-se é dialogar com o universal e com o particular.
Gabriela Maroja Jales
Vestir uma roupa, por exemplo, transcende o simples vestir-se, o simples proteger-se das intempéries, para transformar-se num momento de “mostrar-se” ao mundo. Por que este “mostrar-se”? Porque a moda, (no caso a roupa) é uma linguagem, uma maneira de estar no mundo, uma tentativa de dizer que não é apenas um organismo. Neste aspecto (ou em todos os outros), a fala indica os meus limites e as minhas possibilidades, e isto é profundamente conectado com todos os meus desejos e anseios. Uma peça de roupa “fala”, “se expressa”, uma peça de roupa em certo sentido é uma parte de meu corpo. É talvez por esta razão que falamos em “perna de calça”, em “manga de camisa”, nas pessoas que tem “fibras”, em “visão do mundo”...
Como é que se pode falar na relação entre global e local, sem cair em contradição? Ouçamos Tolstoi, o escritor russo: “se quiseres ser universal, canta primeiro tua aldeia”; no mundo da moda nada mais global que o particular, nada mais universal do que o singular. Aliás, a contradição (ou a integração) entre a totalidade e a parte é a metáfora das imensas possibilidades do ser humano, seja de sua presença, seja de sua linguagem. Vestir-se é dialogar com o universal e com o particular.
Gabriela Maroja Jales
domingo, 27 de abril de 2008
Minha linda e talentosa amiga Fabíola, autora desse blog junto comigo, acaba de dar um passo a mais na sua linda carreira... Foi contratada pela marca Karina Romanenko para ser estilista desta novo marca que acaba de inaugurar loja nos Jardins, mais especificamente na rua Dr. Melo Alves, onde funcionava a loja da Vera Arruda.
O que dizer disso? Asseguro a vocês que a marca será inovadora, moderna e consciente, pelo menos no que depender desta talentosa garota que aos poucos está provando a que veio. Sempre conversamos sobre a questão da identidade da moda brasileira, o que se deve fazer (ou não) para chegar “lá” e nesse ponto somos categóricas que a ética e o respeito a seus ideais está acima de tudo, portanto confirmo o que disse, no que depender de Fabíola, sei que a marca será ética e comprometida.
Aí vai um resumo do trabalho que está sendo desenvolvido para a marca:
A marca Karina Romanenko apresenta de forma original o uso do corset, sendo o mesmo símbolo de sua marca. Ele reaparece de várias formas e materiais sem perder a magia estética da tradição! Nós temos o maior prazer de apresentar o corset como exemplo da força feminina, sem imposição e sim como um desejo natural de se mostrar bela, sedutora, moderna e acima de tudo...Livre!!!
O que dizer disso? Asseguro a vocês que a marca será inovadora, moderna e consciente, pelo menos no que depender desta talentosa garota que aos poucos está provando a que veio. Sempre conversamos sobre a questão da identidade da moda brasileira, o que se deve fazer (ou não) para chegar “lá” e nesse ponto somos categóricas que a ética e o respeito a seus ideais está acima de tudo, portanto confirmo o que disse, no que depender de Fabíola, sei que a marca será ética e comprometida.
Aí vai um resumo do trabalho que está sendo desenvolvido para a marca:
A marca Karina Romanenko apresenta de forma original o uso do corset, sendo o mesmo símbolo de sua marca. Ele reaparece de várias formas e materiais sem perder a magia estética da tradição! Nós temos o maior prazer de apresentar o corset como exemplo da força feminina, sem imposição e sim como um desejo natural de se mostrar bela, sedutora, moderna e acima de tudo...Livre!!!
domingo, 6 de abril de 2008
Moda Brasileira? Que Moda???
Estive lendo este mês uma entrevista da revista L´Officiel com a inglesa Vivienne Westwood, e fiquei muito impressionada e reflexiva. Impressionada porque Vivienne afirma não conhecer absolutamente ninguém que faça moda no Brasil, e faz inclusive um comentário pobre e talvez(?) irônico quando perguntada sobre isso pela repórter e na qual ela prontamente responde “Não(não conhece a moda feita no Brasil). Só posso dizer que você está bonita, porque é isso que estou conhecendo agora. E as modelos brasileiras que são famosas por serem lindíssimas...” . Mais adiante a repórter comenta uma comparação feita pelo escritor e jornalista Collin MacDowell de seu trabalho com o de Herchcovitch, não em semelhança, mas em autoridade em mostrar e represenatr a moda de seu país e mais uma vez ela responde : “Eu não conheço Herchcovitch; Já ouvi falar, mas não sei o que ele faz...”
A reflexão veio depois, quando parei pra pensar nas palavras desta “rainha” da moda contemporânea, considerada transgressora de normas, de regras, de tendências, aliás, uma das grandes criadoras das tendências nos anos 70 e 80 principalmente. Ela com todos os seus méritos mostrou a nós o quanto ainda somos insignificantes no quesito “moda” lá fora. Sim, insignificantes!!! Uma pessoa como ela, que quebra regras, provavelmente tem preconceito com nossa moda, a ponto de nem se dar ao trabalho de pesquisar algo sobre nossa moda ao vir ao Brasil, para pelo menos ter o que comentar ... Você imagine, caro leitor, os estilistas americanos, italianos e franceses que se acham o “supra-sumo” da M ... Se uma pessoa dessa não sabe e nem quer saber nada do nosso país, é porque o mundo em que vive já lhe basta, e aí entra meu pensamento: “Porque conosco tem que ser exatamente o contrário? Porque temos que valorizar mais e mais e mais tudo que vem de fora, mesmo que seja made in China, made in Paraguay?
É, acho que o brasileiro ainda tem muito que aprender... Essa história de “sou brasileiro, com muito orgulho” é lero, lero. Recentemente vimos o porquê.
Explico: o que vimos nas passarelas do SPFW ou do Fashion Rio, que seja autenticamente brasileiro, despido de tendências (tendenciosas), despido de um desejo desesperador de internacionalidade, e que acaba com isso se transformando em meras cópias? Poucos, muito poucos estilistas engrandecem e enriquecem de verdade a moda brasileira, meus caros. É a verdade, isso tem raízes históricas, desde que a colônia por aqui se instalou e mandou trazer a última moda de Paris, nós estamos até hoje fazendo isso: nos curvando diante da supremacia de todo o mundo sobre nós. Sabe por que? Porque temos problema de auto-estima, temos problema em encarar a moda como algo sério, somos ultra-conservadores e pechincheiros, sim, não queremos pagar por coisas diferenciadas!
Então, para concluir, o que nos falta é uma coisa chamada “cultura de moda”. Ou seja, respeitar a moda como algo extremamente importante importante dentro de nossa sociedade, respeitar mais os profissionais que fazem moda em nosso país, deixar de exigir dele que ele esteja “ligado” no que acontece lá fora e deixá-lo criar com o que o que tem aqui, para as pessoas daqui. Quando aceitarmos isso, uma moda 100% nacional, regional, adaptada a nós, nosso clima, nossos gostos, nossa forma peculiar de ser, talvez aí, só aí, os que vêm de fora passem a nos olhar com outros olhos e nos respeitar...
LINK para uma parte da entrevista de Dame Westwood:
http://lofficielbrasil.uol.com.br/site/#/moda/1/475/
A reflexão veio depois, quando parei pra pensar nas palavras desta “rainha” da moda contemporânea, considerada transgressora de normas, de regras, de tendências, aliás, uma das grandes criadoras das tendências nos anos 70 e 80 principalmente. Ela com todos os seus méritos mostrou a nós o quanto ainda somos insignificantes no quesito “moda” lá fora. Sim, insignificantes!!! Uma pessoa como ela, que quebra regras, provavelmente tem preconceito com nossa moda, a ponto de nem se dar ao trabalho de pesquisar algo sobre nossa moda ao vir ao Brasil, para pelo menos ter o que comentar ... Você imagine, caro leitor, os estilistas americanos, italianos e franceses que se acham o “supra-sumo” da M ... Se uma pessoa dessa não sabe e nem quer saber nada do nosso país, é porque o mundo em que vive já lhe basta, e aí entra meu pensamento: “Porque conosco tem que ser exatamente o contrário? Porque temos que valorizar mais e mais e mais tudo que vem de fora, mesmo que seja made in China, made in Paraguay?
É, acho que o brasileiro ainda tem muito que aprender... Essa história de “sou brasileiro, com muito orgulho” é lero, lero. Recentemente vimos o porquê.
Explico: o que vimos nas passarelas do SPFW ou do Fashion Rio, que seja autenticamente brasileiro, despido de tendências (tendenciosas), despido de um desejo desesperador de internacionalidade, e que acaba com isso se transformando em meras cópias? Poucos, muito poucos estilistas engrandecem e enriquecem de verdade a moda brasileira, meus caros. É a verdade, isso tem raízes históricas, desde que a colônia por aqui se instalou e mandou trazer a última moda de Paris, nós estamos até hoje fazendo isso: nos curvando diante da supremacia de todo o mundo sobre nós. Sabe por que? Porque temos problema de auto-estima, temos problema em encarar a moda como algo sério, somos ultra-conservadores e pechincheiros, sim, não queremos pagar por coisas diferenciadas!
Então, para concluir, o que nos falta é uma coisa chamada “cultura de moda”. Ou seja, respeitar a moda como algo extremamente importante importante dentro de nossa sociedade, respeitar mais os profissionais que fazem moda em nosso país, deixar de exigir dele que ele esteja “ligado” no que acontece lá fora e deixá-lo criar com o que o que tem aqui, para as pessoas daqui. Quando aceitarmos isso, uma moda 100% nacional, regional, adaptada a nós, nosso clima, nossos gostos, nossa forma peculiar de ser, talvez aí, só aí, os que vêm de fora passem a nos olhar com outros olhos e nos respeitar...
LINK para uma parte da entrevista de Dame Westwood:
http://lofficielbrasil.uol.com.br/site/#/moda/1/475/
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
“Tô te explicando pra te confudir
Tô confundindo pra te esclarecer”
Baseado nos livros A República (Platão) e Assim falou Zaratustra (Nietzsche), desenvolvi uma coleção de 20 modelos de roupas de alta costura.
Primeiramente gostaria de esclarecer que esse não é um trabalho acadêmico, não só pela ausência de método, mas, sobretudo, por ser um trabalho estético e experimental voltado para reflexão, estimulando a discussão sobre o tema abordado.
Portanto, um trabalho apenas introdutório e instigador, um verdadeiro laboratório e intercâmbio de idéias, cujo desenvolvimento e conclusão serão atingidos por meio de informações trocadas com grupos interessados em discuti-lo; a estilista nesse caso aparece no papel de mediadora. Vale salientar que a parte estética (desenhos da coleção) é a única etapa que já está completamente definida, faltando apenas o cenário de apresentação.
Segue abaixo o texto de apresentação.
A República do Eterno Retorno
Por Fabíola Pedrosa
“Batendo no peito, censurou o seu coração, agüenta coração que já sofreste bem pior” *
Durante milênios o homem se desfez do próprio homem e de seu poder de valorização do mundo. Com o eterno retorno do mesmo, ele se vê completamente perdido em seu próprio meio. Seus hábitos, valores e inquietações encontram-se completamente dispersos em meio a um aglomerado de idéias impostas por uma minoria.
Será que um dia vai existir alguém verdadeiramente aberto e que esteja disposto a mudar essa idéia de eterno retorno?! “Antes quero ser um estilista do que um turbilhão de vingança!” **
É óbvio que existe o medo do novo, tudo está tão caoticamente em seu lugar, que se tirarmos uma peça, tudo vai cair ao redor e, nos parece mais fácil seguir um modelo e muito mais cômodo ter alguém em quem se projetar, do contrário, precisaríamos de muita coragem, e não a temos. A dor que carregamos no peito é justamente a dor desse aprisionamento. Existe um conceito individual de justiça a ser explorado e aperfeiçoado, para que possamos ativar o nosso potencial de ação, começando a agir externamente em contraposição ao que nos foi ensinado. E o mundo precisa de ação e não somente de idéias, senão, com o passar do tempo, sentiremos uma dor tão insuportável que atingirá o mais fundo de nossa alma, e quão profunda será essa dor!
“O criador procura companheiros, não procura cadáveres, rebanhos, nem crentes; procura colaboradores que inscrevam valores novos ou tábuas novas”.
“Que ninguém ama de todo o coração senão o seu filho e a sua obra; e onde há um grande amor de si mesmo, é sinal de fecundidade; eis o que tenho notado”. Nietzsche
*Odisséia- Homero** Assim Falou Zaratustra-NietzscheEsse trabaho é resultado da disciplina(História da Filosofia Antiga) de pós graduação da USP.
Tô confundindo pra te esclarecer”
Baseado nos livros A República (Platão) e Assim falou Zaratustra (Nietzsche), desenvolvi uma coleção de 20 modelos de roupas de alta costura.
Primeiramente gostaria de esclarecer que esse não é um trabalho acadêmico, não só pela ausência de método, mas, sobretudo, por ser um trabalho estético e experimental voltado para reflexão, estimulando a discussão sobre o tema abordado.
Portanto, um trabalho apenas introdutório e instigador, um verdadeiro laboratório e intercâmbio de idéias, cujo desenvolvimento e conclusão serão atingidos por meio de informações trocadas com grupos interessados em discuti-lo; a estilista nesse caso aparece no papel de mediadora. Vale salientar que a parte estética (desenhos da coleção) é a única etapa que já está completamente definida, faltando apenas o cenário de apresentação.
Segue abaixo o texto de apresentação.
A República do Eterno Retorno
Por Fabíola Pedrosa
“Batendo no peito, censurou o seu coração, agüenta coração que já sofreste bem pior” *
Durante milênios o homem se desfez do próprio homem e de seu poder de valorização do mundo. Com o eterno retorno do mesmo, ele se vê completamente perdido em seu próprio meio. Seus hábitos, valores e inquietações encontram-se completamente dispersos em meio a um aglomerado de idéias impostas por uma minoria.
Será que um dia vai existir alguém verdadeiramente aberto e que esteja disposto a mudar essa idéia de eterno retorno?! “Antes quero ser um estilista do que um turbilhão de vingança!” **
É óbvio que existe o medo do novo, tudo está tão caoticamente em seu lugar, que se tirarmos uma peça, tudo vai cair ao redor e, nos parece mais fácil seguir um modelo e muito mais cômodo ter alguém em quem se projetar, do contrário, precisaríamos de muita coragem, e não a temos. A dor que carregamos no peito é justamente a dor desse aprisionamento. Existe um conceito individual de justiça a ser explorado e aperfeiçoado, para que possamos ativar o nosso potencial de ação, começando a agir externamente em contraposição ao que nos foi ensinado. E o mundo precisa de ação e não somente de idéias, senão, com o passar do tempo, sentiremos uma dor tão insuportável que atingirá o mais fundo de nossa alma, e quão profunda será essa dor!
“O criador procura companheiros, não procura cadáveres, rebanhos, nem crentes; procura colaboradores que inscrevam valores novos ou tábuas novas”.
“Que ninguém ama de todo o coração senão o seu filho e a sua obra; e onde há um grande amor de si mesmo, é sinal de fecundidade; eis o que tenho notado”. Nietzsche
*Odisséia- Homero** Assim Falou Zaratustra-NietzscheEsse trabaho é resultado da disciplina(História da Filosofia Antiga) de pós graduação da USP.
MUCCA Mudança com conhecimento, cinema e arte
Zona Sul de São Paulo, Campo Limpo, bairro da periferia, segundo semestre de 2003. A Associação Cultural Kinoforum promove uma oficina de cinema com jovens da região interessados em cinema e com muita vontade de aprender e agir. Terminada a oficina, alguns desses jovens partem para a ação. Depois de produzirem seu primeiro curta “Debate sobre o ECA com os jovens em Brasilândia”, juntam-se para fundar o MUCCA (Mudança com Conhecimento Cinema e Arte). Ao contrário de boa parte dos jovens que escolhem o cinema como área de atuação, o pessoal do MUCCA não tem na produção o seu objetivo principal.
Desde o início de suas atividades, no primeiro semestre de 2004, focaram esforços na projeção de filmes para a comunidade. Utilizando o espaço da Casa dos Meninos – ONG que atua no Campo Limpo na área de educação e cultura – e divulgando as sessões comunidade afora, nesse ano e meio de atividades conseguiram atrair um público de mais de mil pessoas para uma programação exclusivamente de filmes nacionais como “Pixote, a lei do mais fraco”, “Bicho de Sete Cabeças” e “Cidade de Deus”; programação decidida democraticamente pelos dez organizadores (entre 17 e 23 anos) do MUCCA. “É preciso que pessoas que não têm R$ 10,00 para pagar ingresso tenham contato com suas questões, sua cultura”, dizem. “E que possam conversar sobre elas ao final da exibição.” Debates são realizados depois das sessões. “Muitas vezes, nem precisamos estimular. Mal acabam de ser exibidos os créditos e o público já começa a falar”, relata um dos organizadores. Esse contato do cinema com a comunidade, promovido pela moçada do MUCCA, está em processo de crescimento.
Desde o início de 2005, promovem exibições quinzenais na Casa dos Meninos e para por em prática a idéia de “levar o cinema para a comunidade sem experiência cinematográfica” já começaram a armar exibições itinerantes. O que foi uma experiência bem sucedida de exibição ao ar livre numa favela da região vai se transformar em ação planejada no segundo semestre deste ano, com exibições em outras favelas e centros comunitários da Zona Sul.
Na verdade, esse não é um movimento de mão única. A relevância dessa atividade junto à população afastada espacial e socialmente dos reluzentes sistemas multiplex com seus ingressos caríssimos é tão evidente que muitos têm procurado o MUCCA, solicitando exibições e debates em suas comunidades. Agora, as sessões começam a tomar outra consistência, sendo organizadas por temas, o que possibilita aprofundar os debates e a reflexão dos organizadores e da platéia. O primeiro tema escolhido é “A influência da mídia na sociedade”, com exibição de filmes aos sábados, às 19h00 e pipoca grátis. Começa, também, a haver um intercâmbio entre o MUCCA e outros movimentos que trabalham com cinema em outras periferias de São Paulo. E, se não bastasse tudo isso, o MUCCA ainda tem, em andamento, projetos de realização de dois filmes. Um que pretende discutir as relações de trabalho que afligem e, por que não dizer, oprimem a grande massa dos habitantes de nossa cidade, e outro sobre os movimentos de cinema que atuam na periferia paulistana. Numa primeira mirada, poderíamos concluir que se trata de um grupo de jovens cinéfilos que querem popularizar o cinema na periferia. Não é isso, ou melhor, não é apenas isso. Trata-se de pessoas que querem algo muito maior, mais ambicioso e ainda mais legítimo: querem mudar o mundo! Para surpresa de muitos – e, em especial, daqueles que trabalham com estudantes universitários Brasil afora – essa intenção ainda existe naqueles próximos dos vinte anos de idade.
Os jovens do MUCCA querem intervir junto aos bolsões de exclusão social. Querem promover o questionamento e a reflexão justamente onde os problemas se mostram mais doídos. Não querem “virar Walter Salles”, como eles mesmos dizem, querem promover a mudança “estando bem no meio do problema”. E acreditam que o cinema é um dos instrumentos para isso. Munidos dessa intenção e dessa crença foram para a trincheira, estão na luta. Eles estão abrindo um caminho, quase invisíveis e, como eles, outros grupos espalhados por esta mega cidade também estão.
E nós, os acadêmicos das salas de aula, dos simpósios, das teorizações cinematográficas, o que fazemos para participar dessa caminhada? Certamente ainda muito pouco. Tanto do que aprendemos e desenvolvemos em anos de reflexão e prática na vida acadêmica – muitas vezes percorrida em instituições públicas – pode ser de enorme interesse e real serventia para esses jovens da linha de frente. E eles, com certeza – por mais chavão que isso possa parecer – têm muito a nos ensinar. A primeira lição eu já aprendi: A luta não acabou. A batalha não está perdida. É preciso continuar. O MUCCA é prova disso.
Mauricio R. Gonçalves: Doutor em Comunicação e Cinema pela Universidade de São Paulo, Secretário da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema (Socine) e professor dos cursos de Comunicação do Centro Universitário Belas Artes, Universidade Anhembi Morumbi e Universidade de Sorocaba.
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