sexta-feira, 11 de julho de 2008

O corpo fala: Logo, a moda existe!

É isso. O corpo fala: logo a moda existe! Porque o corpo é uma espécie de vitrine da moda. Sem o corpo a moda fica descontextualizada, sem significados, pois o corpo se veste, se despe, se colore, na intenção de mostrar a cultura, a atitude e de se integrar socialmente dentro de uma comunidade. É através dos signos da moda que se percebem as nuances do tempo, da cultura vigente, das formas diversas de manifestações...
A moda não se dissocia da história, das diversas fases do mundo. E foi principalmente após a Idade Média, que o homem buscou na moda uma forma de controle social, uma forma de manter os grupos em sintonia, e o homem embora faça parte deste controle, busca na moda também sua individualidade, representando seus pensamentos, seus desejos, suas necessidades através de suas vestimentas e expressões quando a veste. Tudo está relacionado com a moda: o uso de roupas excessivas na época do puritanismo, tecidos ricos identificando a nobreza, a moda punk, o vestido branco da noiva, o véu das mulçumanas... Não se segrega o que o corpo veste dele próprio! Ou seja, a moda é uma representação de nosso corpo no mundo, de nossa corporeidade.
Através do corpo temos acesso ao universo que habitamos, é através dos sentidos que nos comunicamos com o mundo à volta, a fala, a visão, o tato... E através disto que podemos dizer que moda e corpo se articulam, um não vive sem o outro. Sim, pois a moda reflete arquétipos, modelos ancestrais de nossa condição: marcas de luto, pertencimento a clãs, a famílias, segmentos profissionais, povos e culturas. A plástica do corpo também é determinada pela moda: em épocas de escassez de comida as mulheres cheinhas eram admiradas. Na época da grande entrada feminina no mercado de trabalho os traços andróginos foram muito valorizados. Agora vivemos a ditadura da magreza, pois ao invés de sinal de pobreza, é antes um símbolo de que a mulher se cuida, têm condições de freqüentar academias, clínicas de estética, comer alimentos light (bem mais caros)! Na verdade, a moda é a manifestação mais perfeita de nossa condição de animais simbólicos, delirantes (homo demens).
Enfim, moda não é vestuário, não é luxo, não é brilho. É antes de tudo uma concepção de vida, é comunicação, é signo e não há moda que não esteja imbricada com as variáveis sócio-político-econômicas de uma sociedade, de um mundo e de uma época.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Moda, semiótica e regionalismo...

Como alguns sabem (e a maioria, não), estou fazendo o mestrado em Sociologia pela UFPB, com um projeto sobre o Consumo da Moda Regional. Vou buscar analisar quais os fatores culturais, sociais, as representações formadas pela população, que influenciam o consumo da moda local. Quem tiver sugestões que possam enriquecer meu trabalho, podem mandar email: gabrielamaroja@yahoo.com.br

Segue uma reflexão:

“Toda imagem é um texto”
(Milton José de Almeida)

Se, como afirma Giordano Bruno, desde os gregos estamos embriagados de visão, podemos compreender a importância da linguagem, de toda linguagem no mundo da moda, que se configura como um campo privilegiado da Semiótica, como entendem Castilho & Martins (2006).
Na realidade, não há terreno mais propício para se entender as motivações, os contextos sócio-históricos, as percepções, as representações presentes no fenômeno da moda. Não se trata apenas da linguagem verbal, evidentemente importante, mas de uma linguagem articulada por esta arma à disposição do ser humano, ou seja, a palavra. Se esta é sempre pronunciada com uma interna carga de emoções, ao ponto de destruir ou construir vidas, a imagem pode também ser considerada no mesmo nível do que é construído pelo aparelho lingüístico. Pode-se afirmar que o homem é um animal de comunicação, um ser que parece predestinado a articular não somente a palavra emitida, mas, também vários signos, símbolos, significados que dão um sentido à sua existência. Procura sentido quando a realidade parece escapar do seu campo cognitivo e afetivo, e dá sentido às ações mais estranhas, aos comportamentos mais inusitados, às realidades mais contraditórias. Por isto Gandhi afirmava que “de tanto viver na lama, o homem um dia considera a lama perfumada”. Haverá reflexão mais apropriada para demonstrar que somos um ser de representações e resignificações?
Seria um equívoco pensar que a linguagem falada e escrita esgotam nosso desejo de reorganizar o mundo. Como indivíduos pensantes, falantes, desejantes e mutantes, a realidade se apresenta diante de nós frequentemente como um caos, embora não devamos esquecer que no Gênesis, Deus só organizou o mundo e lhe deu um sentido a partir do caos, e não contra o caos.
A moda não é apenas uma construção do fazer humano. Na moda estão envolvidos aspectos psicológicos, afetivos, econômicos, culturais, religiosos, históricos, pois como diz a poetisa Teresa Vergani “A cor é o nome que a luz dá à pele das coisas”. Numa peça de roupa não estão envolvidos apenas texturas, tamanho, estampas, mas toda uma gama de fatores que falam aos olhos, aos ouvidos, à cognição. Uma peça de roupa é acima de tudo um posicionamento no mundo, uma maneira de expressar intolerância, dor, injustiça. A moda pode ser inclusive uma tradução da vida e da inserção do indivíduo na sociedade.
Trabalhar com um tema como moda regional é apelar para o mundo do pensamento complexo, um pensamento que não se limita ao comportamento linear, mas apela para a diversidade, a contradição, para o simples e o difícil, para as raízes e para o sonho. A moda regional, objeto de nossa pesquisa, não pode ser vista desligada do contexto nacional, das representações, das utopias, dos desejos. Na moda da região está presente toda manifestação cultural particular, ou seja, na moda em geral e na moda regional em particular, estão presentes todas as nuances e manifestações que o ser humano consegue significar: cores, formas, imagens, sons, palavras, mitos, significados, solidariedade. É tudo isto que pretendemos estudar na pesquisa sobre a moda regional.