terça-feira, 8 de julho de 2008

Moda, semiótica e regionalismo...

Como alguns sabem (e a maioria, não), estou fazendo o mestrado em Sociologia pela UFPB, com um projeto sobre o Consumo da Moda Regional. Vou buscar analisar quais os fatores culturais, sociais, as representações formadas pela população, que influenciam o consumo da moda local. Quem tiver sugestões que possam enriquecer meu trabalho, podem mandar email: gabrielamaroja@yahoo.com.br

Segue uma reflexão:

“Toda imagem é um texto”
(Milton José de Almeida)

Se, como afirma Giordano Bruno, desde os gregos estamos embriagados de visão, podemos compreender a importância da linguagem, de toda linguagem no mundo da moda, que se configura como um campo privilegiado da Semiótica, como entendem Castilho & Martins (2006).
Na realidade, não há terreno mais propício para se entender as motivações, os contextos sócio-históricos, as percepções, as representações presentes no fenômeno da moda. Não se trata apenas da linguagem verbal, evidentemente importante, mas de uma linguagem articulada por esta arma à disposição do ser humano, ou seja, a palavra. Se esta é sempre pronunciada com uma interna carga de emoções, ao ponto de destruir ou construir vidas, a imagem pode também ser considerada no mesmo nível do que é construído pelo aparelho lingüístico. Pode-se afirmar que o homem é um animal de comunicação, um ser que parece predestinado a articular não somente a palavra emitida, mas, também vários signos, símbolos, significados que dão um sentido à sua existência. Procura sentido quando a realidade parece escapar do seu campo cognitivo e afetivo, e dá sentido às ações mais estranhas, aos comportamentos mais inusitados, às realidades mais contraditórias. Por isto Gandhi afirmava que “de tanto viver na lama, o homem um dia considera a lama perfumada”. Haverá reflexão mais apropriada para demonstrar que somos um ser de representações e resignificações?
Seria um equívoco pensar que a linguagem falada e escrita esgotam nosso desejo de reorganizar o mundo. Como indivíduos pensantes, falantes, desejantes e mutantes, a realidade se apresenta diante de nós frequentemente como um caos, embora não devamos esquecer que no Gênesis, Deus só organizou o mundo e lhe deu um sentido a partir do caos, e não contra o caos.
A moda não é apenas uma construção do fazer humano. Na moda estão envolvidos aspectos psicológicos, afetivos, econômicos, culturais, religiosos, históricos, pois como diz a poetisa Teresa Vergani “A cor é o nome que a luz dá à pele das coisas”. Numa peça de roupa não estão envolvidos apenas texturas, tamanho, estampas, mas toda uma gama de fatores que falam aos olhos, aos ouvidos, à cognição. Uma peça de roupa é acima de tudo um posicionamento no mundo, uma maneira de expressar intolerância, dor, injustiça. A moda pode ser inclusive uma tradução da vida e da inserção do indivíduo na sociedade.
Trabalhar com um tema como moda regional é apelar para o mundo do pensamento complexo, um pensamento que não se limita ao comportamento linear, mas apela para a diversidade, a contradição, para o simples e o difícil, para as raízes e para o sonho. A moda regional, objeto de nossa pesquisa, não pode ser vista desligada do contexto nacional, das representações, das utopias, dos desejos. Na moda da região está presente toda manifestação cultural particular, ou seja, na moda em geral e na moda regional em particular, estão presentes todas as nuances e manifestações que o ser humano consegue significar: cores, formas, imagens, sons, palavras, mitos, significados, solidariedade. É tudo isto que pretendemos estudar na pesquisa sobre a moda regional.

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