segunda-feira, 26 de maio de 2008

Exposição- Vestir Contemporâneo: a griffe da Contracultura

Olá, a Luciana Cottini que tem um trabalho super lindo, me passou esse release da exposição da qual ela assina a produção. Se você é ou está em São Paulo vale a pena ir dar uma olhada e tentar entrar neste mundo subjetivo meio líquido, meio efêmero que a pós-modernidade trouxe, mas que na verdade sempre esteve aí, no universo do vestir.
E tome gente Cool fazendo moda e arte... E você o que acha?

Vestir Contemporâneo/2008: A Grife da Contracultura

“Maio de 68 organizou-se segundo o eixo temporal da moda, o presente, num happening mais parecido com uma festa do que com os dias que abalam o mundo.”Gilles Lipovetsky

Roupas padrões apesar de tanta diferença. Tipos sociais? Tribos urbanas? Como Mafesoli nos ensina, comunicar é também desejo de viscosidade, de agregação, de fazer parte de baratas e de baixa qualidade, configuradas em looks despretensiosos e caóticos,ambientados em pontos de ônibus lotados, pequenos botecos e banquinhas de camelô do centro da cidade de São Paulo. É neste universo que a grande maioria da população paulistana está inserida, apesar do crescente e próspero pólo de criação em moda prêt-à-porter brasileiro.As castas e seus respectivos costumes foram substituídos por uma miscelânea de cores,formas e estilos, traduzindo a identidade de forma muito mais sutil e subjetiva. Vemos nas ruas pessoas com as mais diversas composições de vestimenta, que exceto pelos ternos e uniformes, não podemos lhes atribuir com certeza sua profissão e muito menos sua classe social.
Entretanto, é perceptível a existência de alguns segmentos de maneiras de vestir, atuando quase como algo maior que o indivíduo. Neste contexto, vemos surgir, na cultura de massas, segmentações do consumo de aparências, numa busca simultânea pela agregação e individualidade. Nas palavras do historiador Jameson, um consumo de massa estilizado.
Tribos Urbanas? As vestimentas comunicam os signos de determinada sociedade, tribo urbana ou classe social. Todavia, não podemos dizer ao certo quais as preferências musicais, o bairro onde mora, a classe social e muito menos a profissão de uma determinada pessoas somente pelas suas roupas. E este nem é o ponto a ser discutido.As identidades visuais são mescladas e muitas vezes vazias de sentido, mas contudo, confluem para esta socialidade que nos fala Maffesoli.A partir de composições e montagens muitas vezes fragmentadas e desconexas, a moda cotidiana traduz a contemporaneidade. Entretanto, quando dissociadas do corpo que vestem e de suas composições que lhe conferem identidade, estas roupas se tornam meros trapos de pano sem vida. É como se elas só existissem enquanto comunicação no corpo. Sem ele, elas apenas têm valor de uso. Ao menos a princípio.Embora as vestes, sem o seu preenchimento por excelência, o corpo, sejam incapazes de reproduzir a linguagem corpórea que lhes garante o status de interface, elas foram adquirindo ao longo da história iconográfica, um repertório visual, social e afetivo que lhes conferem uma motivação.
Nestes termos, identifiquei três tipos ideais desta motivação, tomando emprestado como base a tipologia analítica da sociologia weberiana e alguns conceitos de Maffesoli em seu livro O Tempo das Tribos...
Motivação Territorial / Cotidiana : memória da roupa da pessoa comum, do povo, nas palavras de Maffesoli, do gênio do lugar. Não há preocupação formal (formal aqui referente ao valor "Belo"), mas um desejo de integrar-se, de se fazer desapercebido na massa.Motivação pessoal / Subjetiva : relação afetiva pessoal que cada pessoa tem com ao menos um objeto de vestimenta em sua vida. É ligada as emoções, história pessoal, é portanto, sempre uma narrativa.
Motivação formal / Identificação Visual : está presente nas roupas que denominei como"caricaturizadas". Elas passam por si próprias alguma mensagem referente a algum estilo de - Socialidade como este desejo de se agregar ao grupo, de fazer parte de algo maior, mesmo que esta ação não seja coerente e careça de sentido, mas ao mesmo tempo de se afirmar enquanto pessoa.
Maffesoli nos fala de uma superação da noção de indivíduo/função, do ser histórico configurado em grupos contratuais, para a noção de pessoa/papel, do ser efêmero configurado em tribos afetuais. música, uma época histórica, ou mesmo uma ideologia social. A identificação do usuário com esta peça não precisa ser consciente, ou muito menos coerente. É sobre este aspecto que Maffesoli nos fala de uma sociedade de tribos incoerentes com relação a qualquer ideal comum, ou algo maior que sua própria existência pessoal. Contudo, o grupo é agregado por esta fina película efêmera, que pode ampliar seu alcance, ou mesmo mudar seu sentido não importando muito para quem, e muito menos para onde. É um devir contemporâneo, um constante descritivo e busca de identidade meramente casual.
Ver e ser visto: Independentemente da função social desenvolvida por um determinado indivíduo, sua configuração visual nos transmite muitos signos referentes a sua subjetividade. Ultrapassando os limites de uma sociedade partilhada em classes sociais historicamente dinâmicas, a pós- modernidade nos mostra um outro viés da herança industrial burguesa, muito menos estrutural, e diria até, superficial. A mobilidade das pessoas dentre as diversas opções de identificação social marcam este novo estado de coisas, que permite a existência sistêmica de esferas tão efêmeras como a forma da comunicação visual do dia-a-dia das pessoas. Não que a moda seja efêmera num sentido pejorativo. Mas é que sua persistência na história comprova o argumento dos pós-modernos sobre esta leveza presente no novo dinamismo social, que está mais próximo de uma rede em constante mutação do que a uma pirâmide de classes.
É neste sentido também que se dá a socialidade que nos fala Maffesoli. A constituição social a partir de tribos nos remete a uma estrutura maleável, onde não estão sendo considerados função social, classe social ou mesmo qualquer necessidade de coerência comportamental.Vivemos num mar de efemeridades, de pessoas que flertam com diversos estilos de vestir, maneiras de pensar, estilos de música, motivações políticas, etc., sem ter nenhum vínculo necessariamente estreito e coeso com algum destes grupos.É um non-sense da superficialidade para a qual nos alerta teóricos da comunicação como Baudrillard e Kamper, todos nós somos imagens e agimos enquanto tal: devorando outras imagens. É um estado de coisas irrevogável, onde qualquer ação individual pressupõe uma contrapartida austera, não agimos por nós mesmos e sim por uma confluência de informação e imagem que nos invade e nos devora.
As mil e um faces da Contracultura “Viver sem entraves aqui e agora no rompimento das hierarquias instituídas – Maio de 68 foi levado por uma ideologia individualista libertária, hedonista e comunicacional, nos antípodas da abnegação de si das revoluções anteriores. O presente coletivo e subjetivo é que foi o pólo temporal dominante de Maio de 68, primeira revolução-moda em que o frívolo prevaleceu sobre o trágico, em que o histórico se uniu ao lúdico. Maio de 68 mobilizou as paixões revolucionárias mais na aparência do que em profundidade; a forma moda já conseguira, de fato, anexar a ordem da subversão.” Ser um revolucionário, amar livremente como se o amor fosse uma ruptura, correr pelas estradas com o seu conversível, mergulhar no anti-ideal americano sex, drugs and rockn roll , “emprestar” os ideais de uma época assim como suas vestes e suas músicas, são alguns dos pontos mais fortes da nossa publicidade direcionada para o público jovem de hoje.Entretanto, como o próprio Lipovetsky já nos indica, a moda da revolução não é algo nada novo, pelo contrário, surgiu do movimento juvenil de maior importância histórica deste século, referência visual e comportamental para todas as gerações que se sucederam, o Maio de 68.Ser um “sonhador” ou não, adotar seus ideais e emblemas pode parecer hoje algo muito próximo ao ato de se fantasiar num baile de carnaval, tão frívolo e desconexo quanto sair à noite vestindo roupas que remetem ao punk rock. Tudo pelo simples desejo de viscosidade. Para integrar-se, buscar a própria identidade no outro através da forma e das emoções.
- LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero. Ed. Companhia das Letras / São Paulo / SP pp 245
.- Aqui me referindo ao filme Dreammers de Bernardo Bertolucci.
Ora, não estamos falando novamente das motivações de vestimenta? Em Vestir Contemporâneo/2008: A Grife da Contracultura, discutiremos a identidade da contracultura na sociedade contemporânea através deste espelho que é o outro e os seus jogos adjacentes de vestimenta.
Objeto : Do Artigo à Instalação Áudio Visual
Vestir antes de tudo é comunicar. Experimentar. Viver situações sociais, reviver memórias afetivas, passear pelo universo lúdico.
Vestir Contemporâneo é uma Vídeo-instalação interativa que convida o interator a vivenciar uma outra persona através de composições de vestes ora casuais ora extravagantes. Ver e ser visto são ações simultâneas neste processo, lidando com as motivações pelas quais uma pessoa escolhe uma roupa.Um desfile interativo e uma experiência lúdica no universo fragmentado da moda contemporânea.
Equipe técnica:
Concepção e Direção Geral: Dudu Tsuda
Áudio Documentário: Dudu Tsuda
Concepção de Moda: Dudu Tsuda e Luciana Cottini
Produção de Moda: Dudu Tsuda e Luciana Cottini
Produção: Luciana Cottini
Fotografia e Vídeo: Marc Jean Dourdin
Trilha Sonora: Dudu Tsuda
Autoração e programação de Software: Jean Habbib
Produção Executiva: Luciana CottiniCenotécnico: Adolfo Mia.
Onde:
Sesc Pompéia - área de Convivênciarua Clélia, 93 - Pompéia.
terça a sábado, das 10 às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 20h.
telefone: 11 3871-7700 / e-mail: email@pompeia.sescsp.org.br
Quando:inauguração do evento dia 15 de abril ás 20h.até 18 de junho.

domingo, 25 de maio de 2008

Indiana Jones e a patifaria norte-americana

Às vezes penso que os frankfurtianos tinham razão ao criticarem a indústria cultural. Benjamin era feroz quanto a isso, achava que a propagação do cinema seria algo inevitável e nocivo. Achava tão radical essa opinião, mas muitas vezes me pego dando razão a eles... Vejamos:
Acabei de chegar do cinema. Fui levar meu “pequeno” pra assistir o novo Indiana Jones. Saí de lá impressionada... Ok, super-produção, elenco de primeira, mas, o que está por trás daquela história mentirosa de aventuras? Uma mensagem bem clara de que os americanos e ingleses é que são os “bonzinhos” do mundo. A história se passa na década de 50, quando Indi é procurado por um rapaz que diz que sua mãe e seu amigo que é como um pai, correm risco de vida, se ele não os ajudar a encontrar uma “caveira de cristal” que dá poderes a quem levá-la de volta a seu lugar de origem. Acontece que a KGB, representada por uma “camarada” braço direito de Stálin também quer a tal caveira e encontrar o tal lugar onde deve levá-la para receber seus poderes. Aí já mostra o filme detonando os comunistas. Tem cenas que mostram os alunos na Universidade participando de protestos com faixas “melhor morrer do que ser comunista” e coisas do gênero. Mensagem subliminar? Nããããoooooooo, direta mesmo!!! Comunismo é o mal do mundo!!!!!!!!!! Como se não bastasse e fosse pouco, o tal lugar que deveriam levar a caveira de cristal fica na região amazônica em algum lugar perdido por qualquer um dos países da América Latina (é o que somos pra eles, todos latinos), e aí o negócio fica mais feio ainda. Os comunas entrando na mata com seus carros e serras, derrubando árvores, destruindo coisas, mostrando bichos que não existem (duvidam que é pra mostrar um certo exotismo que povoa a mente deles a respeito de nós?) e no fim culmina com a destruição da cidade sagrada inundada pelas águas. Hum, sei não, só eu que senti um quê de manipulação nisso tudo?

Você caro leitor, deve estar se perguntando,o que eu tenho com isso? O que ela tem com isso? O que isso tem a ver com moda? Eu sei, eu sei... Mas aqui volto às nossas origens. Valorizamos demais o que vem de fora, os norte-americanos de um lado, os europeus do outro e nós espremidos como massas numa forminha dispostos a aceitar tudo isso pra nós, e no meu caso pra o meu filho que está recebendo mensagens erradas, de um ponto de vista que não é o nosso. Isso tem a ver comigo, tem a ver com você e tem a ver com moda, pois nossa moda pode ser nossa identidade, e nossa identidade tem que partir de nossa memória, de nossa herança cultural, de nosso compromisso com a verdade, coisas que o cinema e a TV muitas vezes não mostram.

Só pensei nisso tudo na saída do cinema, mas mesmo assim não era tarde demais. Deu tempo de negar a ele um lanche no Burguer King, onde o brinde era um feliz Indiana Jones sorridente, pronto para conquistar o mundo e derrotar os terríveis inimigos soviéticos, comunistas, e se sobrar um tempinho, os latinos também...

Por Gabriela Maroja

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Espaço Garimpo em Recife até dia 10/05

Olá, postei esta semana o convite pro Espaço Garimpo que está rolando desde o dia 06/05 e vai até 10/05 em Recife na creperia Montmartre- Casa Forte
Gostaria de falar um pouco desse evento, pois muitos pensam que se trata apenas de uma feirinha ou bazar, o que não é verdade.
A Germana Uchôa, organizadora do evento, é uma menina super de vanguarda, fez pós-graduação comigo em Cultura de Moda, e teve a idéia de reunir designer independentes que não tem muita visibilidade no esquema comercial tradicional, portanto, o evento é realmente um garimpo de peças e marcas muito especiais.
Surgiu então o Espaço Garimpo, um projeto itinerante, super moderno, muito bem organizado, e com lindos objetos de design. (repito: nada daquela cara de feirinha ou bazar!).
E então, vamos conhecer?

ESPAÇO GARIMPO

DATA: 06 a 10/05 das 17:00 as 23:00 h
Local: Creperia Montmartre. R. Alfredo Fernandes, 62, Casa Forte.
Tel 81/3268-7278
Ao lado do Mc Donald´s.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Espaço Garimpo a todo vapor!


A moda e suas linguagens como relação local e global

A moda é e sempre será uma expressão da presença do homem na história. E a presença do homem na face da terra aponta não apenas para vitórias no plano material: domar os animais, plantar e colher, dominar as águas e os ventos, abrandar o calor do sol, mas também (ou especialmente) para a dimensão simbólica ou representacional de sua trajetória. A moda, qualquer que seja sua manifestação, nos diz que o homem é um animal que faz da vida uma aventura não somente para se alimentar e reproduzir, mas para dar um sentido a esta aventura.
Vestir uma roupa, por exemplo, transcende o simples vestir-se, o simples proteger-se das intempéries, para transformar-se num momento de “mostrar-se” ao mundo. Por que este “mostrar-se”? Porque a moda, (no caso a roupa) é uma linguagem, uma maneira de estar no mundo, uma tentativa de dizer que não é apenas um organismo. Neste aspecto (ou em todos os outros), a fala indica os meus limites e as minhas possibilidades, e isto é profundamente conectado com todos os meus desejos e anseios. Uma peça de roupa “fala”, “se expressa”, uma peça de roupa em certo sentido é uma parte de meu corpo. É talvez por esta razão que falamos em “perna de calça”, em “manga de camisa”, nas pessoas que tem “fibras”, em “visão do mundo”...
Como é que se pode falar na relação entre global e local, sem cair em contradição? Ouçamos Tolstoi, o escritor russo: “se quiseres ser universal, canta primeiro tua aldeia”; no mundo da moda nada mais global que o particular, nada mais universal do que o singular. Aliás, a contradição (ou a integração) entre a totalidade e a parte é a metáfora das imensas possibilidades do ser humano, seja de sua presença, seja de sua linguagem. Vestir-se é dialogar com o universal e com o particular.


Gabriela Maroja Jales