sexta-feira, 2 de maio de 2008

A moda e suas linguagens como relação local e global

A moda é e sempre será uma expressão da presença do homem na história. E a presença do homem na face da terra aponta não apenas para vitórias no plano material: domar os animais, plantar e colher, dominar as águas e os ventos, abrandar o calor do sol, mas também (ou especialmente) para a dimensão simbólica ou representacional de sua trajetória. A moda, qualquer que seja sua manifestação, nos diz que o homem é um animal que faz da vida uma aventura não somente para se alimentar e reproduzir, mas para dar um sentido a esta aventura.
Vestir uma roupa, por exemplo, transcende o simples vestir-se, o simples proteger-se das intempéries, para transformar-se num momento de “mostrar-se” ao mundo. Por que este “mostrar-se”? Porque a moda, (no caso a roupa) é uma linguagem, uma maneira de estar no mundo, uma tentativa de dizer que não é apenas um organismo. Neste aspecto (ou em todos os outros), a fala indica os meus limites e as minhas possibilidades, e isto é profundamente conectado com todos os meus desejos e anseios. Uma peça de roupa “fala”, “se expressa”, uma peça de roupa em certo sentido é uma parte de meu corpo. É talvez por esta razão que falamos em “perna de calça”, em “manga de camisa”, nas pessoas que tem “fibras”, em “visão do mundo”...
Como é que se pode falar na relação entre global e local, sem cair em contradição? Ouçamos Tolstoi, o escritor russo: “se quiseres ser universal, canta primeiro tua aldeia”; no mundo da moda nada mais global que o particular, nada mais universal do que o singular. Aliás, a contradição (ou a integração) entre a totalidade e a parte é a metáfora das imensas possibilidades do ser humano, seja de sua presença, seja de sua linguagem. Vestir-se é dialogar com o universal e com o particular.


Gabriela Maroja Jales

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