quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Moda Afro... ou mais um modismo?

Estando hoje o discurso do multiculturalismo tão em voga, pois com a globalização acreditamos estarmos intimamente ligados à cultura de diversas partes do mundo, a moda apropria-se deste desejo e curiosidade pelas etnias que nos fascinam, mas que também causam muitos preconceitos. Sim, a moda constantemente faz releituras da moda africana, indiana, chinesa, como elementos exóticos, algo que queremos ter pela plasticidade, mas não queremos “ser”, não queremos crer nessa origem comum para nós. Afinal quantos brasileiros se declaram afro-descendentes? É como se quiséssemos apenas a moda afro como uma representação do exotismo, este um elemento muito caro à moda.


Para os estilistas brasileiros, europeus e americanos, os símbolos étnicos são apenas mais uma forma de fazer negócios, e o consumidor desta moda não está preocupado em utilizá-la com a intenção de se sentir pertencente a um grupo, como forma de identificação. É muito mais o apelo do exotismo, da diferenciação que a cultura oriental em geral nos traz, do que o desejo de fazer parte desta etnia de fato.

Trabalhos como o da artista Goya Lopes que tem paralelamente à moda um trabalho de resgate cultural, onde ela insere elementos das raízes africanas à cultura baiana, e faz desta miscelânea a linha de seu trabalho, são exceção. Além disso, Goya mantém em seu atelier no Pelourinho um programa de “design social”, onde ela emprega mão de obra da própria comunidade, gerando renda e incentivando a identidade com um forte trabalho de auto-estima dos afro-descendentes. Neste caso, existe uma tentativa de construção, mesmo que subjetiva, de uma identidade.
No Brasil é interessante perceber que, embora a maioria descenda da raça africana, poucos são os que se identificam de fato como tal, e a moda étnica torna-se objeto de desejo da classe social superior, que não a utiliza como forma de pertencimento a um grupo, mas apenas como diversão e curiosidade pelo “menu” que a moda oferece para devorarmos rapidamente, afinal a moda é o império do efêmero, como diz Lipovetsky em sua famosa obra.